Já posso ouvir, ao longe, os últimos batuques. Das fantasias restou o brilho, caído no chão em lantejoulas, em purpurina. É quarta-feira de cinzas. Seria também o fim da alegria? O carnaval acabou. Retorno à realidade. É quarta-feira. De cinzas. Amanhã o Brasil começa de novo. Ou se inicia? Nessa hora penso... ainda tem o Campeonato Carioca, o BBB e, mais tarde, o Brasileirão. Panis et circenses. Será que é essa a identidade nacional?
Diogo Mainardi acha que não. Possui uma posição extremamente radical com relação à identidade cultural. Para ele, ela simplesmente não existe. Sua visão é a de que o carnaval não representa nada, não representa a alma do brasileiro nem tampouco o que somos; é somente o carnaval.
Discordo em absoluto de Mainardi. Acredito que o carnaval, a maior festa de nosso calendário, é sim uma representação de nossa identidade cultural, e faço coro com Roberto da Matta quando este afirma que a identidade nacional existe, e existe legitimamente. Ele afirma que a identidade nacional pode ser construída de duas maneiras, o que faz do brasil (assim mesmo, com letra minúscula), Brasil (com letra maiúscula). O primeiro critério leva em consideração os dados quantitativos – como o PIB, PNB, renda per capita e estatísticas econômicas - que faz com que não sejamos o país que queríamos ser. O segundo se baseia em dados qualitativos, que algumas sociedades possuem, e se caracteriza em nosso caso pelo “jeitinho” brasileiro, pelo carnaval, pelo futebol, pela comida misturada, pela música.
A identidade nacional não pode, em minha opinião, basear-se somente num aspecto. Não é somente o carnaval o rito mais representativo da nossa identidade e não é somente ele que faz tapar os olhos do povo à corrupção, à crise, ao baixo salário, às dívidas, à falta de respeito ao cidadão. Isso não ocorre somente no carnaval. Como afirma da Matta, a nossa identidade cultural está ligada a dados, como PIB, renda per capita e também pelo modo como vivemos. O conhecido “jeitinho brasileiro”, do país do carnaval, da Cidade Maravilhosa, do melhor futebol do mundo, da música de qualidade, dentre tantas outras coisas, faz parte de nossa identidade cultural. É uma pena que não faça parte também a indignação, o protesto, a luta contra a tirania, marca da identidade cultural de alguns de nossos vizinhos. E que depois da última batucada, a passividade nos volte ao normal.
Um comentário:
olá tati, se é que eu posso chama-la assim?!rsrs...Meu nome é Elson, e assim como vc,Também já possui um blog com crônicas e fotográfias que eu mesmo tirava de lugares e situações inusitadas desse nosso Rio de Janeiro a Dezembro, aliás, fotográfia hj é um hobby pra mim, amo. Tenho pensado muito em voltar a escrever. Convites não faltam por parte de alguns jornais acadêmicos...Mas enfim, gostaria muito de manter contato com vc através do msn. Muito obrigado pela atenção.
abraços!
elson.filho@hotmail.com
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