domingo, março 01, 2009

Quarta-feira de cinzas


Já posso ouvir, ao longe, os últimos batuques. Das fantasias restou o brilho, caído no chão em lantejoulas, em purpurina. É quarta-feira de cinzas. Seria também o fim da alegria? O carnaval acabou. Retorno à realidade. É quarta-feira. De cinzas. Amanhã o Brasil começa de novo. Ou se inicia? Nessa hora penso... ainda tem o Campeonato Carioca, o BBB e, mais tarde, o Brasileirão. Panis et circenses. Será que é essa a identidade nacional?

Diogo Mainardi acha que não. Possui uma posição extremamente radical com relação à identidade cultural. Para ele, ela simplesmente não existe. Sua visão é a de que o carnaval não representa nada, não representa a alma do brasileiro nem tampouco o que somos; é somente o carnaval.

Discordo em absoluto de Mainardi. Acredito que o carnaval, a maior festa de nosso calendário, é sim uma representação de nossa identidade cultural, e faço coro com Roberto da Matta quando este afirma que a identidade nacional existe, e existe legitimamente. Ele afirma que a identidade nacional pode ser construída de duas maneiras, o que faz do brasil (assim mesmo, com letra minúscula), Brasil (com letra maiúscula). O primeiro critério leva em consideração os dados quantitativos – como o PIB, PNB, renda per capita e estatísticas econômicas - que faz com que não sejamos o país que queríamos ser. O segundo se baseia em dados qualitativos, que algumas sociedades possuem, e se caracteriza em nosso caso pelo “jeitinho” brasileiro, pelo carnaval, pelo futebol, pela comida misturada, pela música.

A identidade nacional não pode, em minha opinião, basear-se somente num aspecto. Não é somente o carnaval o rito mais representativo da nossa identidade e não é somente ele que faz tapar os olhos do povo à corrupção, à crise, ao baixo salário, às dívidas, à falta de respeito ao cidadão. Isso não ocorre somente no carnaval. Como afirma da Matta, a nossa identidade cultural está ligada a dados, como PIB, renda per capita e também pelo modo como vivemos. O conhecido “jeitinho brasileiro”, do país do carnaval, da Cidade Maravilhosa, do melhor futebol do mundo, da música de qualidade, dentre tantas outras coisas, faz parte de nossa identidade cultural. É uma pena que não faça parte também a indignação, o protesto, a luta contra a tirania, marca da identidade cultural de alguns de nossos vizinhos. E que depois da última batucada, a passividade nos volte ao normal.

Um comentário:

Anônimo disse...

olá tati, se é que eu posso chama-la assim?!rsrs...Meu nome é Elson, e assim como vc,Também já possui um blog com crônicas e fotográfias que eu mesmo tirava de lugares e situações inusitadas desse nosso Rio de Janeiro a Dezembro, aliás, fotográfia hj é um hobby pra mim, amo. Tenho pensado muito em voltar a escrever. Convites não faltam por parte de alguns jornais acadêmicos...Mas enfim, gostaria muito de manter contato com vc através do msn. Muito obrigado pela atenção.

abraços!
elson.filho@hotmail.com

Quem sou eu

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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Bacharel em Letras-Português Inglês pela UFRJ - Jornalista formada pela UNESA. Por mim mesma (26/07/2007) Não sei desenhar. Não vejo novela. Não sei quem é a atriz do momento. Como a nêga, nunca fui à Bahia não. Nem quero ir. Não gosto de mate. Não faço pilates. Nem ioga. Odeio Paulo Coelho. Abomino Jabour e Mainardi. Não queria morar numa cabana. Não queria ter um iate. Queria ter menos preguiça. Queria ter menos vontade. Queria tocar piano. Queria cantar. Bem alto. Queria ler todos os livros bons. Queria ler a alma, dos maus. Queria comer chocolate e não engordar. Rir na hora de calar. Queria ter mais amigos verdadeiros Queria ter menos amores vãos. Queria ter poderes mágicos. De parar o tempo. De fazer voltar as horas. Queria ter mais vidas Pra caber tudo Que eu queria ser.