Desde "o melhor filme nacional de todos os tempos" até "fascista", os rótulos dados a "Tropa de Elite" são tão ou mais polêmicos que o próprio filme. Uma outra polêmica precedeu a de seu enredo - estima-se que "Tropa" tenha sido assistido por mais de 11 milhões de pessoas antes de seu début nas grandes telas. O diretor José Padilha antevia a controvérsia que sua trama poderia causar, mas não poderia prever que seu filme "vazaria" antes de sua estréia, e muito menos que se tornaria um fenômeno de pirataria, fomentando ainda mais o amplo debate sobre essa indústria e sobre o direito à propriedade intelectual.
O ponto que pretendo abordar, no entanto, passa ao largo dessa discussão, reconhecida aqui sua relevância. O tema a que me refiro diz repeito às diferentes reações causadas pelo filme. Em artigo de seu blog, sob o título "'Tropa de Elite é fascista?" (http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/default.asp?periodo=&palavra=tropa+de+elite), Arnaldo Bloch deu origem a mais essa polêmica, o que gerou respostas até mesmo por parte de Wagner Moura (que vive o herói-protagonista capitão Nascimento), em artigo ao "O globo" (http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/09/24/297856410.asp).
A questão que mais me aflige é justamente ver que o capitão Nascimento se tornou um herói nacional, fazendo as vezes de um Robin Hood do século XXI - condena os "riquinhos maconheiros", estudantes de uma universidade da Zona Sul, e defende os oprimidos, personificados na figura do aspirante Matias, que convive com os dois mundos - o da favela, de sua origem pobre, e o da burguesia, da faculdade onde estuda. Não que esta não seja parte da realidade. De fato o é. O problema é que ela não é tão simplista assim.
O intuito primeiro do filme não foi provocar tais generalizações e muito menos ser reacionário. Nesse âmbito, concordo com Wagner Moura, pois também não creio que o filme seja fascista, mas faço coro com Arnaldo Bloch com relação à reação do público. Se ele quase vomitou seu pastel de cordeiro, a mim falta apetite ao ver que um filme que inaugura um diferente modo de narrativa, expressa pelo ponto de vista da polícia, seja resumido a máximas como "o usuário é o principal culpado pelo tráfico" ou "estudante de faculdade particular da zona sul é burguês". Causa-me espanto ver que, infelizmente, é essa a "mensagem" que para muitos o filme passa. Mas causa-me mais surpresa ainda constatar que "Tropa" tornou-se um instrumento de afirmação da virilidade masculina - impossível dizer quantas vezes já ouvi "faca na caveira", "tira essa roupa preta porque você é moleque", dentre muitas outras das várias frases marcantes do filme. Se estas frases promovessem um debate sobre a violência no Rio, suscitassem questões relativas ao tráfico de drogas, sobre seu uso, ou até mesmo sobre sua legalização, enfim, se gerassem uma inquietação, um sentimento de revolta e indignação que o filme procura instigar no espectador (ao menos nos conscientes), não me importaria em ouvi-las como um mantra. A realidade, porém, é que "aspira" (que se tornou sinônimo de fraco, inexperiente, novato, em meio à ala masculina) é parte do povo brasileiro, que ao assistir a um filme de tamanha qualidade como "Tropa de elite", capaz de gerar uma reação efetiva contra a situação atual da nossa cidade, ao invés de idéias, só consegue propagar as palavras proferidas aos berros pelo capitão de uma nação falida. Plagiando a música-tema do filme - isso sim, é um osso duro de roer.
O ponto que pretendo abordar, no entanto, passa ao largo dessa discussão, reconhecida aqui sua relevância. O tema a que me refiro diz repeito às diferentes reações causadas pelo filme. Em artigo de seu blog, sob o título "'Tropa de Elite é fascista?" (http://oglobo.globo.com/blogs/arnaldo/default.asp?periodo=&palavra=tropa+de+elite), Arnaldo Bloch deu origem a mais essa polêmica, o que gerou respostas até mesmo por parte de Wagner Moura (que vive o herói-protagonista capitão Nascimento), em artigo ao "O globo" (http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/09/24/297856410.asp).
A questão que mais me aflige é justamente ver que o capitão Nascimento se tornou um herói nacional, fazendo as vezes de um Robin Hood do século XXI - condena os "riquinhos maconheiros", estudantes de uma universidade da Zona Sul, e defende os oprimidos, personificados na figura do aspirante Matias, que convive com os dois mundos - o da favela, de sua origem pobre, e o da burguesia, da faculdade onde estuda. Não que esta não seja parte da realidade. De fato o é. O problema é que ela não é tão simplista assim.
O intuito primeiro do filme não foi provocar tais generalizações e muito menos ser reacionário. Nesse âmbito, concordo com Wagner Moura, pois também não creio que o filme seja fascista, mas faço coro com Arnaldo Bloch com relação à reação do público. Se ele quase vomitou seu pastel de cordeiro, a mim falta apetite ao ver que um filme que inaugura um diferente modo de narrativa, expressa pelo ponto de vista da polícia, seja resumido a máximas como "o usuário é o principal culpado pelo tráfico" ou "estudante de faculdade particular da zona sul é burguês". Causa-me espanto ver que, infelizmente, é essa a "mensagem" que para muitos o filme passa. Mas causa-me mais surpresa ainda constatar que "Tropa" tornou-se um instrumento de afirmação da virilidade masculina - impossível dizer quantas vezes já ouvi "faca na caveira", "tira essa roupa preta porque você é moleque", dentre muitas outras das várias frases marcantes do filme. Se estas frases promovessem um debate sobre a violência no Rio, suscitassem questões relativas ao tráfico de drogas, sobre seu uso, ou até mesmo sobre sua legalização, enfim, se gerassem uma inquietação, um sentimento de revolta e indignação que o filme procura instigar no espectador (ao menos nos conscientes), não me importaria em ouvi-las como um mantra. A realidade, porém, é que "aspira" (que se tornou sinônimo de fraco, inexperiente, novato, em meio à ala masculina) é parte do povo brasileiro, que ao assistir a um filme de tamanha qualidade como "Tropa de elite", capaz de gerar uma reação efetiva contra a situação atual da nossa cidade, ao invés de idéias, só consegue propagar as palavras proferidas aos berros pelo capitão de uma nação falida. Plagiando a música-tema do filme - isso sim, é um osso duro de roer.